sexta-feira, 1 de junho de 2007

Salvador

Passei boa parte de minha vida em Salvador. Ou, sendo franco, uma má parte dela. Salvador não é para mim, sabe? Nada tenho contra negros, mas detesto trepar com negras. Tudo bem, elas são limpinhas e algumas podem até ler rapidamente, o que não suporto são aqueles beições aproximando-se de maus lábios caucasianos. Dá-me arrepios.

Uma vez, logo ao chegar, saí à noite com um amigo a fim de arranjar mulher. Meu atraso naquela cidade era monumental, estava a ponto de comer qualquer uma, sabe?, coisa inteiramente contra meus princípios. Meu amigo apareceu com um carro enorme, disse que seu pai era produtor do Gilberto Gil e de Jorge Amado - talvez ele pensasse que Amado fosse cantor - e, enfim, entramos na geringonça. Claro, o que nos apareceu foram negras, mas eu estava tão a fim que toparia até a Aracy de Almeida. A moça era bastante atraente para quem gosta de samba e fez de tudo comigo. Porém, apesar de meu pau estar em riste, meu sangue caucasiano negava-se a doar esperma para aquela mulher. Ela, inteligentememente, pensou que eu quisesse outra coisa e resolveu oferecer-me o traseiro, que foi aceito de bom grado. "Assim, ela fica de costas", pensei. Não vou entrar em detalhes a respeito, mas tal atitude ato provocou-lhe um efeito de supositório e meu amigo ficou absolutamente possesso com a sujeira do carro. Eu também, mas o carro era de seu pai. O que fazer? A menina pediu desculpas, ficou mesmo penalizada com a lavagem intestinal provocada, mas para mim ficou claro que a cidade de Salvador e as soteropolitanas não eram para mim.

Ademais, havia poucos comunistas na cidade e, os que haviam, ficavam tresloucados à mera sugestão de um tambor. Não era possível levar nada à sério e sou um homem assim, sério, empenhado nas coisas e que tenta guardar alguma coerência perante a vida. Minha essência é comunista, da linha dura, e não fico tantalizado por tambores nem por muros caindo e muito menos por faces que sorriem a cada minuto. Minha risada é pouco vista, raramente ouvida; sou íntegro, objetivo e, se hoje dedico-me ao comércio, demonstro minha honestidade em cada ato, fazendo questão de pagar os impostos extorsivos que não resolvem os problemas de base de nosso país, servindo apenas a que ministros desta nova dita esquerda se locupletem em convescotes, muitas vezes regados a canções de nosso ministro-cantor.

É um absurdo fazer-nos pagar essas coisas, mas eu pago. Só soneguei quando não me restava mais nada a fazer. Coerência é algo importante, porém ela só poderia ser cobrada se as atitudes de nossos governantes formasse uma linha reta, uma estrada plana, não esta linha tortuosa que vemos. Somos obrigados a refletir sobre cada mudança e decidir, sempre segundo a ideologia que nos apóia e que nunca devemos negar. Não é fácil, há que ter força mental e muitos caem pelo caminho, seduzidos pelo fácil.

O nome de meu amigo cujo pai era produtor de Gilberto (e Jorge Amado...) era Rudá. Seu pai deu-lhe este nome ridículo por causa do filho de Oswald de Andrade. Quando conheci seu pai, para tentar agradar, perguntei seriamente sua opinião sobre Memórias Sentimentais de João Miramar. Como resposta, obtive um "o que é isso, é um livro?". Então, naquele momento, entendi que o produtor cultural gostava de uma fachadinha, de um polimento bonito, de uma citação e que só sabia da Semana de Arte Moderna e olhe lá. Esse pessoal é muito imbecil mesmo. Só que ele me arranjou emprego para auxiliá-lo e eu precisava desesperadamente. Não houve risco algum, não refutei as idéias que me movem. Minha função era arranjar belas mulheres para os artistas que se apresentassem na cidade. Era um trabalho fácil, ao qual dedicava-me com verdadeiro afinco. Tinha catálogos com características e fotos de muitas moças e, do outro lado, procurava descobrir o que cada artista gostava mais. Foi assim que descobri que os negros escolhiam sistematicamente as loiras; só que pele branca e o cabelo amarelado eram produtos raros naquela zona tropical.

Foi neste ínterim que conheci Isaura, mas creio que é chegada a hora de abrir novo capítulo.

2 comentários:

Anônimo disse...

Ola vim te visitar.
Parabens pelo espaco :)
Agora uma pergunta o que te faz ler o meu blog, vc me parece bem diferente de mim :)
Bjs e Boa sorte!!!
Aline e super junior

Allan Robert P. J. disse...

Também vivi em Salvador. No bom de Salvador. Cheguei para um carnaval, voltei no ano seguinte e fui ficando. Fiquei 12 anos. No bom de Salvador.