quarta-feira, 27 de junho de 2007

A mijada de Isaura

Falava de Isaura, negona da Federação (para quem não conhece, bairro em Salvador com predominante população negra), cheia de graça e muitas convicções. Ah, o seu orgulho racial! Desfraldava bandeiras, quebrava lanças; não conversava, fazia comícios. Foi ela quem me iniciou nos rudimentos da alegre golden shower.
Conheci Isaura à beira do Dique de Itororó. Estava eu e uma amiga voltando para casa, quando fomos surpreendidos por uma mulher negra, bonita e de bunda insolente. Pareceu-me uma aguerrida militante do Movimento Negro. Sem pejo algum, levantou a saia de motivos étnicos e, de cócoras, mijou adundantemente, sequer notando os circunstantes ao alcance. Fazia isso enquanto cantarolava, rindo. A minha amiga não pôde escapar de alguns respingos. Foi um jorro torrencial e límpido. Não vi a genitália, apenas o jato que me parecia inesgotável. Poderei morrer, e de novo nascer, e jamais verei mijo tão límpido e farto como aquele.
Fingi naturalidade, pois sempre soube que a Bahia é lugar de exotismos. Minha amiga, nem tanto, pelo que pude perceber em sua expressão de nojo.
Só depois, e em situação não menos perturbadora, conversaria com Isaura.
Saímos do lugar e voltamos para casa. Minha amiga só queria um banho, mas quando lá chegamos descobrimos que não havia água. Dei-lhe uma toalha umedecida com Indaiá para a higiene da noite.
Curioso... talvez por isso, sempre que ouço falar em ação afirmativa, política de cotas, inclusão social e coisas tais, penso em uma grande mijada.
E Salvador, vocês sabem, desde o Governador ao mendigo, todos mijam na rua, sem inibições. Penso até que seja uma espécie de ritual indentitário. Certa vez vi um alto executivo do então Chase Manhattan, segundos depois de sair do restaurante onde almoçara, aliviar-se em uma transversal da Av. Sete - local com intenso fluxo de pedestres àquela hora. Sua contribuição - segundo o próprio - ao chamado caldo de cultura daquele luxuriante melting pot.

2 comentários:

Anônimo disse...

Eu sou carioca e lá no Rio, quando eu era criança, também se mijava muito na rua. Hoje não sei, moro em Taubaté. Mas com tanta bala perdida acho que o hábito acabou, mesmo porque é preciso preservar com cautela as jóias da coroa.
Ps: Gostei muito da última frase: "contribuição ao chamado caldo de cultura daquele luxiriante melting pot". Boa.

Eugênico Cardoso disse...

Obrigado, Isnard. Volte sempre. Em breve, novidades.